Semana Palestina: Jantar Tertuliado


A partir das 19h é preciso várias mãos e narizes inventores de sabores para preparar o tacho. Quanto mais melhor, porque esta coisa de se falar da noção de estado precisa de muitas invenções, já que são poucos os sítios em que não há Estado e, por estas bandas, só conhecemos e experimentámos o Estado.
Diz-se que falar é o momento mais poético do pensamento, portanto vamos falar!
Para a conversa, levamos uns papelinhos para ajudar à poética!

Mas ficam aqui umas dicas, só para baralhar os miolos, sacudir o pó ou pestanejar de sonhos!

G. Agamben, no seu livro Estado de Excepção diz-nos que "A primeira Guerra Mundial - e os anos seguintes - aparecem (...) como o laboratório em que foram experimentados e aprontados os mecanismos e dispositivos* funcionais do estado de excepção como paradigma de governo». Sendo que o estado de excepção constitui um vazio de direito, em que os decretos surgem como força de lei, temos visto ultimamente como esta prática de governo se generalizou baseando-se no paradigma da segurança.

Leia-se o que nos é dito sobre o Estado de Israel na página do Knesset: "Israel não tem uma constituição escrita, mesmo se de acordo com a Proclamação da Independência, uma assembleia constituinte deveria ter preparado uma constituição até 1 de Outubro de 1948. O atraso na preparação da constituição decorreu principalmente devido aos problemas que emergiram alegadamente entre uma constituição secular e a Halacha (a lei religiosa Judaica)." (mais aqui). Sabendo isto e tendo em conta que, segundo Foucault retomado por Agamben,  um dispositivo* é «a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos do seres vivos» e que o estado de excepção se instaurou como força de lei, não nos parece ilógico considerar que a criação do Estado de Israel em 1948 seguiu um modelo de estado de excepção sem precedentes.
Esses princípios de 1948, que enformaram todo o desenvolvimento do Estado de Israel, traziam já a semente cujos frutos se têm visto e se continuam a ver nos resultados desastrosos dos governos sionistas e na formação duma cada vez maior comunidade de refugiadas e refugiados palestinianas e palestinianos. A pequena luz que nos trouxe Hannah Arendt em Nós, os refugiados, com a possibilidade, aventada por Agamben, de que a condição de refugiados pudesse ser um paradigma para uma nova consciência histórica que envolveria o declínio do Estado-nação e potenciaria a formação de uma comunidade política ainda por vir, foi-se extinguindo perante um quotidiano de sobrevivência assistida.
Ainda assim, num contexto actual, em que têm vindo a surgir uma série de pequenos estados novos, A. Negri abre uma janela para formularmos o que ainda não tem nome: "A minha conclusão é que não podemos escapar à mundialização. E, sem dúvida, a única saída, que nos permitiria ser livres, seria um êxodo democrático fora do Estado-nação. O que significa? Quero dizer que se acarinhamos aquilo que na nação podemos considerar como positivo e criativo, se gostamos da língua e da literatura – se houver uma –, da memória e da imaginação – se ainda valer a pena –, ou das paisagens, do cheiro da terra e dos seus relevos, que por vezes são as coisas que mais acarinhamos – se gostamos disso tudo, e de tantas outras coisas mais, há que renunciar em fazer da nação um Estado. Como é possível ? Não sei."

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